Se você tiver a curiosidade de acessar o sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ler o conteúdo dos registros de pesquisas eleitorais, cadastrados pelos diversos institutos, vai perceber que em todas o quesito ‘nível de confiança’ dos dados apresentados é de 95%. Outro quesito, a ‘margem de erro’, varia de 3 a 4% normalmente.
A princípio, a metodologia, o plano amostral, o controle e fiscalização da coleta de dados, despertam no cidadão [mais especificamente no eleitor] a presunção de que os dados levantados são verdadeiros ou próximos do ‘retrato do momento’ em que as opiniões sobre intenção de voto foram colhidas. As pesquisas, desde que devidamente registradas, não passam por censura prévia da Justiça Eleitoral e podem ser divulgados naturalmente.
Ao longo dos tempos, as pesquisas de intenção de voto, em todos os níveis de campanha eleitoral [nacional, estadual, municipal, majoritária ou proporcional], provocam manifestações de confiança e descrédito, amor e ódio, certeza e dubiez. Quando sai o resultado da eleição, algumas acertam, outras ficam dentro da margem de erro, mas várias erram feio, passam longe do resultado real. Algumas são suspensas pela Justiça Eleitoral, seja por erros técnicos ou por suspeita de manipulação.
Podemos buscar um exemplo próximo. Na eleição presidencial de 2022, o ex-presidente Lula (PT) recebeu 48,43% dos votos válidos no primeiro turno contra 43,20% do presidente Jair Bolsonaro (PL). Os números das urnas contrastam com as pesquisas eleitorais divulgadas na véspera. O Datafolha deu 50% a Lula e 36% a Bolsonaro. A Globo/Ipec deu, respectivamente, 51% a 37%. Ambas tinham margem de erro de 2 p.p.
Em 2022, a pesquisa Serpes/O Popular apontava a reeleição do governador Ronaldo Caiado (UB) com 61% dos votos válidos, e as urnas deram a ele 51,81%, quase 10 p.p. menos. Apontava vitória de Marconi Perillo (PSDB) para senador, com 25,8%. Mas quem venceu foi Wilder Morais (PL), com 25,25% e 5,4 pontos de frente sobre Marconi.
Em 2020, em Anápolis, às vésperas do 1º turno das eleições [que ocorreu em 15 de novembro], a pesquisa Real Time Big Data/Record apresentou o prefeito Roberto Naves com 38%, Antônio Gomide 26% e Márcio Corrêa, 9%. A margem de erro era de 4 p.p. Entretanto, na totalização das urnas, Roberto chegou a 46,64%, Gomide 28,87% e Márcio 16,39%. Apenas Gomide ficou dentro da margem de erro. Os números de Roberto e Márcio tiveram muita diferença.
Já a pesquisa Serpes, às vésperas do 2º turno, divulgou pesquisa em 26 de novembro [3 dias antes do pleito] que, na estimulada, apontava Roberto com 49,6% e Gomide com 34,4%. As urnas deram 61,28% a 28,72% em favor de Naves.
2024
Na sexta-feira, 27, duas pesquisas divulgadas, que fizeram suas entrevistas no mesmo período, apresentaram números com larga diferença, inclusive invertendo a liderança das intenções de voto. A pesquisa Voga Brasil/Jornal Contexto, ambos com sede em Anápolis, apresentou, na estimulada, Antônio Gomide (PT) com 40%, Márcio Corrêa (PL) com 29% e Eerizania Freitas (UB) com 18,5% nas três primeiras posições. Entrevistou 800 pessoas, com margem de erro de 3,5 p.p.
No mesmo dia, a pesquisa Serpes/O Popular, na estimulada, mostrou Márcio Corrêa na liderança com 34,6%, Gomide com 32,9% e Eerizania 9,7%, nas três primeiras posições. Foram ouvidas 601 pessoas, com margem de erro de 4 p.p. Ou seja, na Serpes Márcio está 5,6 p.p. a mais que na Voga; Gomide 7,1 p.p. a menos; e Eerizania 8,8 p.p. a menos. A diferença de uma pesquisa para outra está acima da margem de erro média, que fica em 3,7 p.p.
Em tese, em recente análise, a cientista política Nara Pavão, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), disse que o contraste entre as pesquisas e resultado das urnas pode ser explicado pelo “voto útil”, conceito que revela a situação em que o eleitor vota de forma estratégica em um candidato que não necessariamente é a sua primeira opção. O cientista político Renato Dolci sugere que a divergência pode ocorrer por fatores de metodologia. Ele diz que as bases de dados dos institutos podem apresentar diferenças.
INVESTIGAÇÃO
Em outubro de 2022, o senador Vanderlan Cardoso [atualmente candidato a prefeito de Goiânia] disse na tribuna do Senado que a divulgação de resultados “muito errados” e “fora da realidade” por parte de institutos como o Ipec (ex-Ibope) e Datafolha, é que justificaram sua postura em assinar a CPI dos Institutos de Pesquisa. “Sou favorável a que se promova uma investigação séria e profunda sobre sua atuação e sobre aqueles para quem elas trabalham”, disse o senador goiano à época. Vanderlan ressaltou que sua fala era direcionada a erros de grandes e pequenos institutos. Deu destaque aos resultados de pesquisas de intenção de voto para presidência da República que, segundo ele, davam diferença de 14 pontos e, nas urnas, foi de 5 pontos.
Pesquisas com divulgação agendada para esta semana
Dia de divulgação - 30.09
REAL DATA BIG DATA
Dias de pesquisa - 26 e 27/09
Entrevistados – 800
Contratante – 3 Poderes Mídia e Comunicação
Custo - R$ 12 mil
Margem de erro – aproximadamente 3 p.p.
Dia de divulgação - 30.09
LUPA PESQUISA
Dias de pesquisa - 26 e 27/09
Entrevistados - 600
Contratante - MV9 Comunicação e Publicidade
Custo - R$ 10 mil
Margem de erro – 4 p.p.
Dia de divulgação - 02.10
EXATA PESQUISAS
Dias de pesquisa – 30/ e 1º/10
Entrevistados - 800
Contratante - Sharlie Branco Pereira
Custo - R$ 6 mil
Margem de erro – 3,47 p.p.
Dia de divulgação - 03.10
OPÇÃO PESQUISAS
Dias de pesquisa – 29/09 a 1º/10
Entrevistados - 1.200
Contratante - Jornal Opção
Custo - R$ 18.260,00
Margem de erro – 3 p.p.
Dia de divulgação - 04.10
SERPES
Dia de pesquisa - 03/10
Entrevistados - 601
Contratante - Jaime Câmara (jornal O Popular)
Custo - R$ 14.375,00
Margem de erro – 4 p.p.
Dia de divulgação - 04.10
INSTITUTO VOGA
Dias de pesquisa - 1 e 2/10
Entrevistados - 800
Contratante - Jornal Contexto
Custo - R$ 12 mil
Margem de erro – 3,5 p.p.