Anápolis URBANIZAÇÃO

Vazios deixaram de existir na zona central no espaço de uma geração

Do largo de Sant’Ana, a gênese da cidade, o perímetro urbano se expandiu, inclusive coma criação do Jundiaí

26/09/2024 15h00
Por: Marcos Vieira
Foto: Leandro Lage/Museu Histórico de Anápolis
Foto: Leandro Lage/Museu Histórico de Anápolis

Uma imagem área, em tom sépia, mostra o quanto uma região que hoje é densamente urbanizada em Anápolis, há quase sete décadas atrás, conservava aspectos de zona rural. A partir de um registro do passado, a reportagem fez um pedido ao editor de imagens e fotógrafo Leandro Lage Leite, para que retratasse a mesma porção de terra com ângulo semelhante. O resultado, quando as duas imagens são colocadas lado a lado, surpreende os mais novos e enche de nostalgia os moradores mais antigos da cidade.

Segundo o historiador Jairo Alves Leite, a imagem do passado possivelmente é do ano de 1957. Ele cita dois elementos para sua afirmação: o Senai na Rua Roberto Mange já existia e a Paróquia de Santana já estava bem estruturada. A consolidação desses prédios se deu após a metade da década de 1955. E o historiador se arrisca a cravar o ano de 1957 por um motivo: “por ocasião do aniversário de Anápolis aconteceram muitos sobrevoos para fotografias”. 

Anápolis chegava em 1957 ao seu cinquentenário, um marco bastante comemorado na época. Três anos depois, um censo apontava que a cidade tinha 68.732 habitantes. Hoje são 415.847 pessoas vivendo em solo anapolino, de acordo com a mais recente estimativa do IBGE. Isso quer dizer que entre as duas fotos, o número de moradores do município cresceu 505%.

Ainda comparando as duas imagens, surpreende que as estruturas que chamam a atenção na fotografia antiga continuam firmes no registro feito agora. O Senai que apareceu ao fundo, inaugurado em 1952, hoje é a Faculdade de Tecnologia Senai Roberto Mange. É uma construção pioneira, pois foi a primeira unidade do Senai de Goiás. Na época, inclusive, ela estava subordinada à Delegacia Regional de São Paulo da entidade. A escola chegava em Anápolis ministrando aulas de ajustagem, torneiro mecânico, ferraria, eletricidade e carpintaria de esquadria.

Na foto antiga, em frente ao Senai, existe um enorme terreno que seria ocupado por imóveis comerciais e residenciais e em 1978 daria início à obra de construção do centro administrativo, inaugurado em 1982. A imagem atual não permite essa visão por completo, já que hoje um prédio está sendo erguido nos fundos da Paróquia de Santana. 

Santana tão fundamental para a história de Anápolis. O largo é considerado a gênese da cidade. Em 1957 ele ainda era um espaço aberto, sem pavimento, bem diferente da ocupação de hoje. O historiador Jairo Alves Leite que a igreja foi entregue aos fieis no final dos anos 1940. Os freis norte-americanos chegaram a Anápolis em 1944 e foram morar na casa de Zeca Batista, onde hoje é o museu histórico, e começaram a construção do convento de Santana, antes da paróquia. Os religiosos se mudaram para o convento e começaram a construir a nova igreja e demolir a antiga. 

Já ao lado da Paróquia de Santana existia - e permanece até hoje – o Colégio Estadual Antensina Santana, que foi o primeiro grupo escolar de Anápolis, inaugurado em 18 de março de 1926, com o nome de Grupo Escolar de Anápolis Dr. Brasil Caiado. A partir de 1930 passou a se chamar Grupo Escolar 24 de Outubro. Após alguns anos o prédio do grupo tornou-se pequeno para comportar grande número de alunos. Foi quando o prefeito Graciano Antonio da Silva, fundador, conclui o novo prédio, situado na Praça Santana, em 1945. Anos depois o grupo recebeu o nome da professora Antensina Santana. 

 

BAIRRO JUNDIAÍ

Aos fundos da imagem antiga aparece também um descampado, com pouquíssimas casas, onde hoje é o povoado Bairro Jundiaí. O bairro surgiu em 1944, lançado pela Sociedade Imobiliária de Anápolis Ltda, com o objetivo de urbanizar a região e resolver um problema habitacional da época. Segundo Bruno Augusto de Souza e Janes Socorro da Luz, autores do estudo “As novas centralidades e eixos comerciais em Anápolis”, produzido na UEG, muitas pessoas estavam se deslocando para Goiás, especialmente, para Anápolis, após a criação de Goiânia, e não tinham como se estabelecer, permanecendo em pensões e pequenos hotéis. Por isso a importância do Bairro Jundiaí. 

“A localização estratégica do bairro na parte leste da região central, cortado por importantes vias arteriais e coletoras, além da presença de uma rede completa de infraestrutura transformou o bairro em um local elitizado, o que atraiu atividades diferenciadas para o local, como restaurantes, bares, lojas de roupas, entre outras. A presença da Santa Casa de Misericórdia no local atrai as atividades ligadas ao setor de serviços de saúde, clínicas, laboratórios, consultórios, farmácias, entre outras”, afirmam os autores.

Apesar da existência até hoje das construções mostradas na foto antiga, essa não é uma característica da região central de Anápolis, que ao longo dos anos observou a demolição de prédios que contavam a história da cidade. Sobre esse assunto, um artigo na Revista Memória em Rede, de Ana Caroline Caixeta Silva e Milena D’Ayala Valva, fala sobre o centro pioneiro de Anápolis e a modernização.     

“Ao andar pelo centro pioneiro de Anápolis, nota-se que estamos em uma sociedade onde o legado do passado está em constante eminência da perda, que convive com a renovação de fachadas, com demolições, em um processo de descaracterização parcial e, às vezes, total daquilo que é testemunho de uma época e da história da cidade e de sua população, uma prova da pequena ou escassa conscientização e do reconhecimento da importância desses marcos de memória”, escrevem as estudiosas. Para elas, o desapego ao passado impulsiona um “contínuo demolir-construir”. 

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