Documentos classificados como confidenciais na época mostram estratégias de militares da Força Aérea Brasileira (FAB) na coleta e catalogação de ocorrências de OVNIs (Objetos Voadores Não Identificados), até mesmo para evitar levar ao ridículo a corporação.
“Visando resguardar a posição do Ministério da Aeronáutica no tocante ao assunto, altamente polêmico, a coleta e a remessa de dados exigem muita discrição, não devendo ser feitos comentários que possibilitem exploração por parte da imprensa em geral, fato que até poderia levar ao ridículo a nossa corporação”, escreveu o brigadeiro do ar Alberto Bins Neto ao comandante da Primeira Ala de Defesa Aérea (1ª Alada), em Anápolis.
O ofício, datado de 14 de agosto de 1978, dá instruções sobre aparecimento de OVNIs, informando à 1ª Alada quem passa a analisar as ocorrências, inclusive aquelas relatadas pela imprensa: o Sexto Comando Aéreo Regional.
Essas instruções foram publicadas alguns meses antes, em 13 de abril de 1978, em um documento confidencial assinado pelo próprio ministro da Aeronáutica, Joelmir Campos de Araripe Macedo. Existia a preocupação com o aumento das ocorrências de relatos de OVNIs feitos por testemunhas de “relativa suspeição”. Segundo o ministro, o temor pelo ridículo, que fazia calar testemunhas, cedeu lugar a um tratamento mais responsável pelo “misterioso problema, já que a evidência de certos fenômenos inexplicáveis não mais permite ignorá-los”.
O oficial recomendou ao Estado-Maior dar início à organização de um “Registro sobre OVNI”, de natureza sigilosa, arquivando cronologicamente os fenômenos eventualmente observados no espaço aéreo brasileiro. “A criação oficial do Serviço em apreço, bem como a designação dos oficiais responsáveis pelo seu funcionamento, deverão ser objeto de Portaria Reservada do Ministro da Aeronáutica”, escreve o ministro.
“Cumpre-me, por último, recomendar que a designação dos Oficiais para integrarem a Comissão de Avaliação deverá recair em elementos isentos de ideias ou opiniões pessoais preconcebidas. A isenção, no caso, é fundamental para a utilidade da tarefa em causa”, completa Araripe Macedo.
REPORTAGEM
Em junho de 1979, Anápolis aparece em um documento confidencial do Segundo Comando Aéreo Regional, composto com recortes de jornais que trazem reportagens de ocorrência de OVNIs. São matérias com os títulos “Disco voador amedronta a noite de Xique-Xique”, “Os discos voadores estão chegando”, “Objetos voadores aparecem de novo no Seridó potiguar” e “Fenômeno misterioso em Anápolis”.
A reportagem do Correio do Planalto fala de um buraco de 2 mil metros quadrados que apareceu em uma propriedade rural em Anápolis, depois de um estrondo, com dez metros de profundidade e sem qualquer explicação plausível. “Apesar de muita brincadeira com relação ao fato, inclusive não faltou quem dissesse que um pedaço do Skylab caíra no local, ou mesmo quem afirmasse que uma nave espacial houvesse pousado ali. A verdade é que um fenômeno estranho aconteceu”, diz o texto da época.
“Até mesmo a Base Aérea de Anápolis já demonstrou interesse em conhecer melhor as causas do fenômeno e para isso um helicóptero possante está sendo esperado para facilitar a pesquisa na região”, finaliza a reportagem.
RELATO
Quatro anos depois, um relatório da Base Aérea de Anápolis, assinado pelo capitão aviador Zander Nogueira Martins, do Centro de Operações Aéreas, seguia as orientações do ministro. Um OVNI foi visto no dia 23 de março de 1982, aproximadamente 11h00, no momento em que uma aeronave F-103 executava loops sobre o aeródromo de Anápolis.
O relatório informa: “A olho nu (era possível vê-lo dessa maneira), o objeto tinha uma forma circular (aparentemente esférica), de cor branca, tendendo para prata. Visto com binóculo, a forma era a mesma, porém, mais brilhante, por vezes se apresentando avermelhado, com tendência para dourado”. E prossegue: “A curiosidade de um e de outro fez com que a maioria das pessoas na Base Aérea de Anápolis vissem [sic] o objeto, inclusive o autor deste documento”.
Em seguida, algumas checagens foram feitas, relacionadas à possível existência de balões sondas ou satélites artificiais na região e contato de radar. Nada trouxe resultado.