O Banco Central elevou em 0,25 ponto percentua a taxa básica de juros da economia, a Selic, pela primeira vez após mais de dois anos. A decisão foi tomada em unanimidade pelo Comitê de Política Monetária (Copom) nesta quarta-feira (18), fazendo o número saltar de 10,50% a 10,75% ao ano.
A notícia não foi bem recebida por parte do mercado, que discorda da elevação. Ao DM Anápolis, o economista Márcio Dourado destacou que a medida é nociva à economia brasileira, já que com a Selic em alta, todos os empréstimos bancários e não bancários do país ficarão mais caros e acaba por desacelerar o crescimento da economia.
“Então, ontem nós tivemos uma alta da Selic, o que eu acho extremamente nocivo à economia brasileira. O que acontece? A Selic é a taxa do sistema especial de liquidação e custódia. Esse sistema é o sistema em que se transacionam as taxas de juros, são chamados juros básicos da economia. Ali, o governo brasileiro, que é o maior devedor ou já dívida pública brasileira de aproximadamente R$ 7 trilhões, ele se financia emitindo títulos públicos. Esses títulos acabam por direcionar todas as outras taxas do mercado”, explica.
A Selic, que significa sistema especial de liquidação e custódia, é a taxa que regulariza todas as outras taxas do mercado brasileiro. Desta forma, ela impacta diretamente os juros de financiamentos bancários, por exemplo, mas também, se em alta, castiga o empreendedor que precisa de crédito no país.
“Nesse sentido, a taxa Selic, decidida pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central, vem balizar todas as outras taxas de juros. Então, com a alta da Selic, consequentemente, todos os empréstimos bancários e não bancários do Brasil ficaram mais caros. Porque quem empresta dinheiro, chamados agentes poupadores, vão preferir ser remunerados pelo governo, porque tem segurança, do que ser remunerados por terceiros”, completa.
Na prática, Dourado ressalta que, por exemplo, um empresário que quiser aumentar seu galpão, comprar um maquinário ou até mesmo alguém que quiser comprar um carro, vai precisar pagar mais juros ao fazer um financiamento. “A alta da Selic vem como a chamada política monetária contracionista. Então, as pessoas vão consumir menos, as empresas vão fazer menos investimentos. Isso, então, vai fazer com que a economia desacelere o seu crescimento”, afirmou.
A justificativa do Copom para tal ação é a resiliência na atividade econômica, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo (economia caminhando para consumir mais que a capacidade de produção), alta das estimativas para a inflação e desancoragem das expectativas de inflação. Já em relação ao futuro, o comitê foi vago sobre a intensidade e a duração do ciclo de alta dos juros.
O economista também se posiciona de forma contrária ao argumento utilizado pela instituição. “O Banco Central faz isso para tentar assegurar a inflação. Segundo o Banco Central, nós estamos muito próximos do teto da meta de inflação, o que eu, abertamente, enquanto economista, sou contrário. O que que acontece? A meta de inflação brasileira ela está dentro ali da meta que é entre um e meio por cento e quatro e meio por cento. Estamos ali em 4.32%, 4.4%, está próximo do teto, mas a economia está crescendo”, destaca.
“Quando você segura ou quando a política dessa segura a economia, consequentemente a gente prejudica, especialmente os mais pobres, porque é com o crescimento da economia que se tem ascensão social, que tem aumento de emprego, que tem aumento de renda”, reforça.
A última elevação dos juros ocorreu em agosto de 2022, quando a taxa subiu de 13,25% para 13,75% ao ano. Após passar um ano nesse nível, a Selic teve seis cortes de 0,5 ponto e um corte de 0,25 ponto, entre agosto do ano passado e maio deste ano. Nas reuniões de junho e julho, o Copom decidiu manter a taxa em 10,5% ao ano.