O ano de 2024 é considerado um dos mais significativos para a comunidade LGBTQIAPN+ no que tange a política partidária. Isso porque, pela primeira vez na história, os candidatos puderam declarar a orientação sexual (gay, lésbica, bissexual, pansexual e assexual) e a identidade de gênero (cis ou transgêreno, masculino ou feminino).
Com isso, 3.357 candidatos e candidatas LGBTs foram registradas, um aumento de mais de 500% em relação ao pleito anterior, quando foram mapeados 556 representantes da comunidade. Apesar do avanço, o número representa apenas 0,52% do total de candidaturas registradas em 2024 (454.689).
Em Anápolis, de um total de 384 candidatos, seis se declararam como parte da comunidade LGBTIQIAPN+. De acordo com o advogado especialista em direitos humanos, direitos da diversidade e inclusão e membro da Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Goiás (OAB/GO), Alex Costa, isso representa um avanço e deve ser comemorado.
“Estamos, aos poucos, mudando a situação de invisibilidade e inacessibilidade quanto aos direitos políticos positivos, ou seja, o direito que o cidadão ou cidadã possui em poder ser votado(a). Há muito a ser feito, mas muito já se fez até aqui”, destacou.
Ele destaca dados que ainda preocupam, em relação à população LGBTIQIAPN+ de Goiás como, por exemplo, o fato do estado ser o que teve o maior aumento de crimes de racismo motivados por homotransfobia (79,7%) e de lesão corporal dolosa, também motivados por LGBTIfobia (11,5%), de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Entre os anos de 2021 e 2022, Goiás teve uma variação de 375% de homicídios contra LGBTQIA+. No Grupo Especializado no Atendimento às vítimas de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Geacri), da Polícia Civil, o número de denúncias por crimes de homotransfobia aumentaram 129,76%, em 2022, na comparação com o ano anterior.
Diante dessa realidade, o advogado destaca a necessidade de eleger representantes comprometidos em atuar em defesa da comunidade LGBT. “Precisamos de projetos de leis e ações que efetivem as políticas públicas e alcancem as pessoas em situação de vulnerabilidade social, em insegurança alimentar, em situação de rua, em abandono familiar pela discriminação e preconceito, e em situações de violências e exploração”, afirmou.
“Não basta apenas levantar a bandeira na parada do orgulho. A ação em promover acesso aos direitos fundamentais pelo legislativo é uma das vias que ameniza tanta omissão e negligência do Estado, que infelizmente invisibiliza as necessidades e direitos da população LGBTI+”, completou.
A declaração de orientação sexual no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não é obrigatória. Dos mais de 450 mil candidatos, 68,41% optaram por não declarar. Em relação aos que fazem parte da comunidade LGBTIQIAPN+, mas possuem receios em expor tal fato, seja por ideologia política ou por restrição imposta internamente pelo próprio partido, o advogado faz uma ressalva.
“Não merece o apoio da comunidade. É certo que em nenhum momento irá defender os direitos dessa população ou se aproximar da causa. Se possui receio de si próprio(a), o que dirá de toda a comunidade? É um exemplo nítido da LGBTfobia velada, ser obrigado(a) a omitir a orientação sexual. Infelizmente muitas pessoas aceitam e se submetem a passar por isso”, enfatiza.
Alex também destaca que, apenas pelo fato de não haver nenhum(a) vereador(a) eleito(a) que seja assumidamente LGBTI+, já mostra a necessidade de eleger um(a) representante para o legislativo municipal e reforçou a necessidade dessa pessoa apresentar um perfil combativo e de vasto conhecimento da realidade e dificuldades enfrentadas pela população em questão.
“Temos que ocupar todos os poderes e espaços para, assim, o Estado promover a diversidade e inclusão de que a sociedade tanto anseia. O tema da edição de 2024 da Parada do Orgulho de Anápolis, foi: “Vote com orgulho, vote em quem te representa. É exatamente isso que esperamos, alguém que tenha orgulho de ser quem realmente é”, concluiu.
Entre as seis candidaturas assumidamente LGBTs em Anápolis, dois se declaram gays, duas lésbiscas, um bissexual e um assexual. Mariane Stival (PDT) e Rimet Jules (PT), ambos advogados, tentam chegar ao legislativo pela primeira vez.
“A defesa pelos direitos LGBTQIA+ não é uma bandeira, é uma luta pelo direito à própria existência. Assim como também não é apenas uma pauta que levanto, diz respeito a minha própria vida, a minha própria existência e de milhares de pessoas. Infelizmente não há políticas públicas específicas para a comunidade em Anápolis, assim como não há nenhum representante que tenha coragem de, no mínimo, defender nossos direitos”, disse Mariane.
Já Rimet destaca a necessidade de ocupar espaços como a Câmara Municipal para, a partir disso, acabar com o estigma presente na sociedade contra os LGBTs. “Muita gente que se sente excluída, menosprezada e invisibilizada. Precisamos de políticas públicas para promover a inclusão, o respeito e o nosso direito de existir”, completou.