Anápolis DECISÃO TÉCNICA

Vanderic destaca precisão no julgamento de Christiano Mamedio, mas não compra discurso de “vitória” e “satisfação”

Delegado afirma que em uma tragédia como esta todos os lados saem derrotados

29/08/2024 16h56
Por: Lucas Tavares
Foto: Lucivan Machado
Foto: Lucivan Machado

Titular da Delegacia Especializada em Investigação de Crime de Trânsito (Dict) de Anápolis, Manoel Vanderic afirmou que o resultado do julgamento do empresário Christiano Mamedio da Silva, condenado a 12 anos de prisão por dirigir embriagado e matar Emanuel Felipe Pires, de 15 anos, e Eurípedes Tomé, de 26, não gera alegria ou satisfação.

Segundo ele, todos os lados da história perdem com a tragédia, o que inclui as vítimas, o sentenciado e suas respectivas famílias. Porém, enquanto profissional, o delegado destacou o caráter pedagógico da sentença que, na visão dele, foi “legalista” e “precisa”, e destacou que novos júris como este devem ocorrer novamente em Anápolis para crimes de trânsito.

“Essa condenação ela foi além de técnica, ela foi humana. A gente não estava olhando a postura, a integralidade da família do acusado ou dele, mas uma conduta que foi praticada e gerou um resultado. As condutas foram dirigir embriagado, avançar o sinal, excesso de velocidade, e provocaram um resultado trágico, no caso, duas mortes e uma lesão”, disse.

O delegado também afirma que as decisões envolvendo culpa ou dolo devem levar em consideração a realidade atual do Brasil, já que o direito, segundo ele, é uma ciência “flexível, mutante e orgânica” e que deve acompanhar as mudanças sociais.

“Hoje, o trânsito é a maior causa de morte da população não idosa no Brasil, maior causa de invalidez permanente. Décadas atrás não era assim, porque a gente não tinha esse trânsito, esse volume de carros e as pessoas não tinham esse comportamento tão frio e agressivo no trânsito”, destacou.

Perguntado sobre o cumprimento da pena, se deveria ser mais ou menos tempo, ou em regime semiaberto, Vanderic afirmou que considera a decisão justa. “O condenado por homicídio de trânsito deve iniciar imediatamente o cumprimento da pena, isso [responder em semiaberto] feriria princípios do direito brasileiro, colocar um condenado para sair junto com a família da vítima pela porta da frente”, reforçou.

“Depois de um julgamento daquela magnitude, isso inclusive é para outorgar efetividade a nossa legislação, porque pensa a sensação de impunidade que iria vigorar”, completou. O delegado ainda ressalta que as provas dos crimes praticados por Christiano eram robustas e, por este motivo, a consequência também deveria estar a altura.

“Eu não considero uma vitória, eu consigo ver os dois lados. Eu considero que eu tive um posicionamento imparcial, assim como o promotor, assim como o juiz, assim como os jurados. Não posso falar que é com alegria ou satisfação que a gente recebe esse resultado, como eu falei ontem [no julgamento], eu acho que todo mundo perde”, concluiu.

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