Uma das áreas que mais sofreu com a crise financeira proveniente da pandemia de Covid-19 foi a da beleza, com milhares de salões fechando as portas durante o período, em todo o país. Neste cenário, diversos profissionais precisaram se reinventar para manter as contas em dia, sem precisar mudar de profissão.
Thaynná Maia, de 31 anos, trabalha como maquiadora profissional no studio que carrega o seu nome. Mesmo com um diploma na área de engenharia civil e cursos na em perícia criminal, ela optou por se especializar ainda mais no ramo da beleza. Ao DM, ela conta que percebeu uma brecha neste mercado.
“Quando comecei, aos 20 anos, percebi que em Anápolis eram poucas as maquiadoras que entregavam um trabalho com excelência e que facilitava o atendimento, indo até o conforto da casa da cliente. Montei minha estratégia e me dediquei a esse atendimento personalizado por três anos”, relembrou.
Visando ampliar o negócio, firmou uma parceria com outra profissional, que também atendia em domicílio, porém com penteados. Algum tempo depois, decidiram montar o primeiro espaço fixo juntas, reduzindo os atendimentos em domicílio. Hoje, apesar de seguirem caminhos diferentes, ambas entendem que a atividade que exercem vai muito além do lucro.
“Nós, maquiadoras e profissionais da beleza, temos um papel enorme em relação à autoestima das nossas clientes. Eu me encontrei na maquiagem! Com isso, entendi que valor nenhum paga o preço da satisfação de cada cliente. Uni o útil ao agradável e a maquiagem se tornou, desde então, a minha fonte de renda principal e grande parte do sustento para a minha família”, disse Thaynná.
Ela afirma que esse trabalho se trata de um dom que Deus lhe deu, uma das maiores realizações que pôde ter, mas também destaca o senso de oportunidade. “À época, a escassez de profissional em Anápolis me motivou muito a continuar no ramo da maquiagem”, reafirma.
“Eu costumo dizer que existe a área da maquiagem antes e após a pandemia. Antes da pandemia, o número de maquiadores na cidade era consideravelmente grande, o que ajudava a atender o maior público possível. Após a pandemia, houve uma queda exponencial, porém vejo que aumentou muito mais a qualidade e as qualificações de cada profissional”, completou.
Por muitos anos Thaynná se dedicou ao atendimento híbrido, focado em diversos públicos, porém, por motivos pessoais, hoje se dedica apenas às madrinhas, acompanhantes de noivas e gestantes. “Anápolis e a população anapolina são muito acolhedoras para quem quer montar o seu próprio negócio e recomendo para quem ainda quer começar investindo nessa área que nos traz inúmeras realizações”, concluiu.
Aos 22 anos, Angélica Abgail Guerra é maquiadora profissional especialista em pele negra e atende no seu próprio studio, o Angélica Guerra Makeup. Ela, que trabalha na área desde os 14, sempre percebeu uma escassez, não só de produtos voltados para a pele negra, mas também de profissionais preparados para atender este público.
“Comecei como maquiadora em um salão no Mato Grosso, sempre amei o ramo da beleza, desde pequena, mesmo tendo poucas referências de beleza negra. Quando comecei, percebi a falta de produtos voltados para pele preta, uma escassez de tons para negras médias e, principalmente, retintas, assim como a falta de profissionalismo de alguns maquiadores ao entregar peles totalmente esbranquiçadas e acinzentadas”, destacou.
“Foi então que decidi investir nessa área e entregar um resultado de excelência para minhas pretinhas”, completa a profissional. Apesar de ter se dedicado ao longo dos anos para atender pessoas negras com a devida qualidade que merecem, Angélica afirma que seu público abrange todos os tons de pele, assim como todas as classes e faixas etárias.
Ao DM, ela conta que seu principal objetivo é que todos os tipos de beleza e tons de pele sejam realçados em datas especiais ou até mesmo na rotina diária. “Como eu vim de uma cidade do interior, onde o movimento negro não tinha força e o racismo estrutural era normalizado, percebi uma evolução em Anápolis, não só na área da maquiagem, mas em várias áreas da beleza”, afirmou.
“Creio que, com os movimentos sociais que estão acontecendo, abrem-se portas e nos unem ainda mais, tanto na questão de networking com outros profissionais da mesma área, quanto na conscientização da população em relação à luta negra nesse ramo que é tão importante”, concluiu a profissional.