Sociedade ENTENDA

“Pais superprotetores formam filhos inseguros”, afirma psicólogo especialista em adolescência

Dificuldade para ingressar na vida adulta, ansiedade e depressão são algumas das consequências

14/08/2024 20h00
Por: Lucas Tavares
Foto: FreePik
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A adolescência é uma fase da vida repleta de dúvidas, inseguranças, erros e também acertos. É neste momento onde algumas das principais decisões são tomadas como, por exemplo, o que você realmente quer ser quando “crescer”. Porém, algumas condições, ao invés de facilitar, podem dificultar ainda mais essa transição para a vida adulta.

Um dos mecanismos que podem facilitar o desenvolvimento é a internet, porém, se usada de forma excessiva e sem propósito, pode ter um efeito reverso. De acordo com o psicólogo e especialista em adolescência Samuel Rolindo, é neste espaço virtual que os jovens passam a maior parte do tempo, muitas vezes se comparando com outras pessoas.

“Comparam tudo que pertence a vida dele, mas é uma comparação desleal, porque a rede social é uma vida editada, não é a vida real. Então ele compara essa vida editada com a vida real dele e vê que a vida dele não faz sentido. Infelizmente, no Brasil, o terceiro motivo de morte é suicídio, os jovens não estão sabendo lidar com isso e estão entrando em profunda depressão, ansiedade”, afirmou.

Outro problema também, diretamente ligado a esta geração de adolescentes, é a superproteção dos pais. Segundo o especialista, são pessoas que crescem sem se sentir preparadas para a vida, pois a superproteção gera ansiedade e a ansiedade, muitas vezes, paralisa.

“Infelizmente nós temos um índice muito alto de jovens “nem-nem”, nem estuda, nem trabalha, que se sentem despreparados para a vida. Eu vejo que isso é uma responsabilidade dos pais, os pais precisam saber lançar os seus filhos para a vida e infelizmente hoje os pais não tem se dedicado, nós temos tanta informação e poucos se preparam para formar filhos preparados para a vida adulta”, destacou.

Geralmente, esta superproteção está relacionada a dores e traumas do passado desses pais, o que faz com que, ao invés de se sentir protegido, o jovem se sinta sufocado. Segundo Samuel, que criou uma metodologia para trabalhar diretamente com esses jovens, o equilíbrio entre o amor e o limite é a chave para essa relação.

“Eu preciso entender que, como pai, eu preciso tratar das minhas feridas, porque senão vou eu estar tratando da minha criança ferida e não do meu filho, é a minha história, não a do meu filho. Então, nós precisamos entender que todos os pais também precisam buscar a sua saúde mental, resolver seus problemas emocionais para que eles possam ter sucesso”, ressaltou.

“Hoje nós temos muitos pais que são superprotetores e pais superprotetores formam filhos inseguros. Nós temos uma geração, chamada de geração alpha, de 2010 para cá, que tem muita baixa auto confiança, justamente porque os pais não confiam, não soltam. Essa superproteção, que é um excesso de amor, de cuidado, que não deixa o filho errar, não deixa o filho ir para vida. Ele vai ter que errar, a adolescência é uma das fases que mais se comete erros na vida”, completou.

Segundo ele, o adolescente precisa ser alertado sobre os riscos e saber as consequências daquilo que se faz, mas que é importante que pais e mães encontrem esse “limite” e mantenham uma comunicação de amor assertiva, o equilíbrio. “Aí eu vou ter filhos saudáveis. O problema é que quando há desequilíbrio, eu vou gerar filhos inseguros”, disse Samuel.

Redes Sociais

Sobre o tempo de tela, o psicólogo afirma que há mecanismos para limitar e acompanhar o conteúdo que crianças e adolescentes acessam. A orientação é que o período em frente às telas não ultrapasse a marca de uma hora, com exceção dos menores de dois anos que, segundo Samuel, deve ser “zero”.

“Temos vários transtornos que estão sendo gerados pelo excesso de tela, são pais que querem ter o tempo para trabalhar, para fazer os deveres de casa, e colocam os filhos na tela. O maior prejudicado disso é a geração que está vindo, é uma geração que tem muita ansiedade, crianças que estão mais ansiosas que os adultos, justamente por causa desse super estímulo”, alertou.

“Eles buscam esse estímulo, que vem com a dopamina, um neurotransmissor responsável pelo prazer e motivação. Então, fora da tela, eles se sentem entediados fora da tela e a consequência disso é a ansiedade aumentar cada vez mais e depois a depressão”, concluiu o psicólogo.

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