Política ANÁLISE

Bolsonarismo: história separa o apoiador raiz dos oportunistas

Postura dos políticos locais nas eleições passadas mostram quem verdadeiramente sempre esteve com o ex-presidente em Anápolis e faz exposição dos que viraram bolsonaristas há poucos meses

29/07/2024 10h20
Por: Redação
Foto: Agência Brasil
Foto: Agência Brasil

De olho no capital político que Jair Bolsonaro mantém em Anápolis, muitos pré-candidatos da cidade se apresentam como seguidores do ex-presidente, embora uma boa parte nunca pediu voto para o principal líder da direita no país.

A mutação para o bolsonarismo inclui vestimentas (passar a usar o verde e amarelo), discursos com pautas ideológicas que nunca estiveram no radar de alguns políticos e, claro, fotos e mais fotos ao lado de Bolsonaro, embora algumas buscas na internet mostrem que na hora de pedir o voto para o ex-presidente, os bolsonaristas de agora estavam em outros palanques. 

O prefeito Roberto Naves (Republicanos), que não é candidato a nada nesta eleição, tem chamado a atenção para os políticos que se apresentam como bolsonaristas em Anápolis, mas estão interessados essencialmente nos votos que o ex-presidente poderá transferir para suas candidaturas graças à popularidade entre os anapolinos.

Segundo o que tem afirmado Roberto, a população sabe quem é bolsonarista de fato e, durante a campanha, as evidências de que existe um grupo político que se ligou ao ex-presidente apenas para tentar ganhar a eleição ficará clara.

A reportagem relembra as últimas eleições para mostrar onde estavam cada um dos principais personagens que se apresentam como bolsonaristas em Anápolis nos dias de hoje. 

 

Família Faria, entre Lula e o bolsonarismo

Não há dúvida que a família Faria tem papel fundamental na campanha do pré-candidato Márcio Correa (PL). Basta dar uma navegada no perfil nas redes sociais do deputado estadual Amilton Filho (MDB) para perceber o quanto ele está engajado no projeto. 

Amiltinho tem andado de verde e amarelo e se posicionado como direita bolsonarista, mas a sua origem política é outra. Em 2018, quando era vereador presidente da Câmara de Anápolis, antes da campanha que consagrou Bolsonaro presidente, ele apostava na vitória de Lula e chamava o bolsonarismo de “extrema direita que não agrada a população”. 

Em 2022, já deputado estadual tentando a reeleição, Amilton Filho ficou neutro e cuidou da própria campanha, sem engajamento algum com Bolsonaro. O pai do parlamentar, ex-vereador Amilton Faria, que também tem batido palmas para o bolsonarismo em 2024, em 2022 fez festa e gravou vídeos nas redes sociais, ao lado do vereador Luzimar Silva, comemorando a vitória de Lula. Amiltão, como é conhecido na política, tem origem petista: esse era o seu partido quando estreou em mandatos na Câmara Municipal. 

 

A transformação de Márcio Corrêa para se enquadrar

É nítida a transformação que o pré-candidato Márcio Correa passou para se enquadrar no bolsonarismo. Em 2020, quando disputou a eleição para prefeito de Anápolis pela primeira vez, filiado ao MDB, ele centrou sua campanha em propostas e alternativa à polarização do PT de Antônio Gomide e a direita de Roberto Naves, na época no PP. 

Márcio acabou ficando em terceiro lugar na corrida de 2020, mas ganhou fôlego para a eleição de 2022, quando foi candidato a deputado federal. O emedebista seguiu o partido no primeiro turno e até esteve presente no evento em que o seu partido em Goiás anunciou apoio à candidata à presidência da República Simone Tebet. 

Correa e Tebet foram derrotados nas urnas. Ela decidiu apoiar Lula e hoje é ministra do presidente petista. Ele ficou neutro e nem sequer gravou vídeo para pedir seus eleitores que apoiassem Bolsonaro, em um momento crucial para o líder da direita. 

O discurso de Márcio mudou a partir de agosto de 2023, quando ele assumiu provisoriamente a vaga de deputado federal. Foi aí que o então emedebista decidiu tratar de questões ideológicas importantes para o bolsonarismo e se posicionar como anti-PT. Fora do cargo, ele se aproximou do ex-deputado Major Vitor Hugo, conseguiu convencer o senador Wilder Morais e até mudou de partido – se filiou ao PL – para se enquadrar melhor na embalagem do bolsonarismo. Apenas em 8 de dezembro de 2023, Jair Bolsonaro começou a aparecer nas postagens de Márcio Correa nas redes sociais. Hoje o ex-presidente povoa o discurso, as fotos e a maneira de se portar do pré-candidato anapolino.

 

Hélio Araújo e seus conflitos ideológicos

O vereador Hélio Araújo foi eleito em 2020 essencialmente pelo seu trabalho como sindicalista, representante dos frentistas de postos de combustíveis de Goiás. Engajado nessa pauta, repleta de nomes da esquerda, Hélio também tinha contatos com figuras dessa ideologia, como Ricardo Patah, presidente da UGT, homenageado pelo vereador na Câmara de Anápolis e nome de proa no apoio a Lula dentro do movimento.

Hélio se tornou “bolsonarista raiz” quando viu a oportunidade de retomar espaço no PL, que havia perdido após ser atropelado por Major Vitor Hugo às vésperas da campanha de 2022. O vereador foi destituído da presidência do partido em Anápolis, ficou órfão (a madrinha Magda Mofatto trocou de sigla), mas conseguiu espaço com o então candidato a senador Wilder Morais, ocupando uma de suas suplências. 

Wilder desbancou concorrentes fortes porque colou no bolsonarismo e saiu vitorioso nas urnas. Hélio Araújo pegou carona e, a partir disso, tirou a defesa dos trabalhadores do seu discurso e passou a abordar pautas ideológicas, como aborto e ideologia de gênero. Ao retomar a presidência do PL de Anápolis, dissemina aos novos aliados a cartilha que tem dado certo até o momento.

 

Roberto Naves e Bolsonaro estiveram juntos nas eleições municipais de 2020 e para presidente no pleito de 2022

Em 2020, o prefeito Roberto Naves foi notícia nacional ao derrotar o PT em Anápolis com apoio de Jair Bolsonaro (assim como em 2016). Naves foi o único que teve apoio expresso do então presidente da República, que gravou vídeo pedindo voto a ele. Antes, os dois políticos haviam se aproximado graças a agendas do presidente em Anápolis. A cidade foi quem recebeu os refugiados de Wuhan no início da crise da pandemia, graças ao aceno feito por Naves, ao lado do governador Ronaldo Caiado (União Brasil), de cooperação com o presidente Bolsonaro. 

Em 2022, antes mesmo da definição das candidaturas à presidência da República, o prefeito de Anápolis já deixava claro que apoiaria a reeleição de Bolsonaro. Ele gravou vídeo e pediu voto ao presidente nos dois turnos. Sete meses depois de Bolsonaro ter deixado a presidência, Roberto Naves o convidou para receber a Comenda Gomes de Souza Ramos, o que lhe colocou em evidência nacional, novamente, a aliança de ambos. 

O prefeito de Anápolis tem dito agora, em 2024, que segue bolsonarista e que sempre irá trabalhar para o ex-presidente. 

 

Outras figuras locais do campo bolsonarista

O bolsonarismo em Anápolis teve algumas figuras importantes, que não estão presentes no processo eleitoral deste ano. É o caso do empresário Edson Tavares, que chegou a presidir o PSL, partido em que Jair Bolsonaro se elegeu em 2018, e Valeriano Abreu, advogado que disputou algumas eleições na cidade e que esteve na Praça Dom Emanuel recepcionando o então pré-candidato à presidência da República em dezembro de 2017. Ali o bolsonarismo dava passos importantes para se tornar um movimento forte e agregador de votos na cidade nas duas eleições gerais que se seguiram.  

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