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Cerrado vive pior seca da história, diz estudo da USP

Pesquisadores dizem que cenário é causado pelo efeito estufa; recursos hídricos do bioma estão sendo comprometidos com os anos

28/06/2024 20h00
Por: Emilly Viana
Foto: PMA / Divulgação
Foto: PMA / Divulgação

Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), e publicado na revista Nature Communications, revelou que a seca no Cerrado brasileiro é a mais severa dos últimos 700 anos.

O aquecimento global tem afetado intensamente a região central do Brasil, com temperaturas aproximadamente 1 °C acima da média global de 1,5 °C. A pesquisa aponta que o aumento de temperatura está causando distúrbios hidrológicos: a evaporação da água da chuva, intensificada pelo calor extremo próximo ao solo, está impedindo a penetração da água no solo, alterando os padrões de chuva. 

Além disso, as precipitações tornaram-se mais concentradas e esporádicas. O fenômeno reduziu a recarga dos aquíferos e tem impactando negativamente o nível dos rios tributários do rio São Francisco.

O estudo analisou dados históricos de temperatura, vazão, precipitação regional e balanço hidrológico da Estação Meteorológica de Januária, que possui registros desde 1915. Os números foram comparados com as variações químicas de material coletado na Caverna da Onça, localizada no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, em Januária (MG).

Segundo o professor do Instituto de Geociências (IGc-USP) Francisco William da Cruz Junior coautor do estudo, a utilização de dados geológicos permitiu expandir a compreensão da seca provocada pelo aquecimento global para um período anterior ao dos registros meteorológicos, reconstituindo o clima até sete séculos atrás. Isso comprovou a maior secura do Cerrado e a relação dessa seca com o distúrbio do ciclo hidrológico causado pelo aumento da temperatura induzida pela emissão de gases de efeito estufa.

Líder do estudo, o profesor Nicolás Strikis destacou que a seca atual não tem precedentes. A tendência de aumento de temperatura identificada a partir dos anos 1970 ainda não atingiu o pico de aquecimento, o que sugere uma piora do fenômeno.

A Caverna da Onça, que inspirou o nome do estudo, é uma caverna aberta situada no fundo de um cânion de 200 metros de profundidade, influenciada diretamente pelas variações de temperatura externa. O ambiente permitiu aos pesquisadores avaliar como a seca altera a química das formações rochosas de cavernas. O aumento da evaporação, causado pelo maior aquecimento, diminui a recarga de água que alimenta os gotejamentos na caverna. Essas mudanças químicas na rocha, associadas à evaporação da água, indicaram a intensidade da seca.

O estudo é parte de um projeto mais amplo que busca entender as variações climáticas e as mudanças do clima durante o último milênio, utilizando registros de formações rochosas em cavernas e anéis de crescimento de árvores. A nova metodologia e a validação dos dados abrem caminho para que mais estudos em outras cavernas, regiões e biomas sejam realizados, possibilitando uma reconstituição mais precisa do clima no país.

Além disso, o grupo conduz estudos de paleoclima com base em árvores fósseis encontradas no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, em parceria com biólogos do Projeto Temático. Essas árvores, protegidas da luz por mais de 500 anos, fornecem dados independentes sobre o fenômeno, complementando os resultados obtidos com as formações rochosas.

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