Geral DEVER CÍVICO

Médico Veterinário anapolino que se voluntariou no Rio Grande do Sul fala sobre experiência durante tragédia

Juliano Talamonte destaca o papel dos profissionais no resgate e cuidado com os pets

23/06/2024 20h00 Atualizada há 10 meses
Por: Lucas Tavares
Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo Pessoal

A tragédia socioclimática no Rio Grande do Sul revelou para sociedade uma série de problemas estruturais e mobilizou profissionais de diversas áreas para conter danos. Em um cenário onde salvar vidas humanas era a prioridade, veterinários e equipes de socorro também se dedicaram aos animais.

Ao longo dos últimos meses dezenas de vídeos de resgate e pós-resgate de cães, gatos e até mesmo cavalos, viralizaram. De Anápolis, o biólogo e médico veterinário, especialista em dermatologia veterinária, Juliano Talamonte, foi um dos voluntários na cidade de Canoas, na Grande Porto Alegre.

Segundo ele, em entrevista à Rádio Manchester, o próprio Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) tem uma resolução que destaca o dever cívico destes profissionais na sociedade, o que inclui atos de voluntariado. Além disso, Juliano  fala sobre o lado espiritual e emocional, que o motivaram nesta viagem.

“Foi uma experiência muito válida, anteontem eu apresentei uma palestra em uma faculdade de Minas Gerais e contei um pouco desta história, falei da relevância daquele trabalho. De fato, é algo jamais visto na nossa área. Conversei com outros veterinários e todos falaram da mesma forma, que nunca houve precedentes como essa tragédia”, afirmou.

Para chegar ao estado, foi necessário levantar recursos próprios, além de promover uma campanha de doações. Um dos fatores observados pelo biólogo anapolino foi o trauma físico e emocional sofrido pelos pets.

“Como se trata de animais domésticos e essa domesticação ao longo do tempo fez com que eles adquirissem personalidades e comportamentos parecidos com o dos humanos, eles sentem ansiedade, depressão, todas as doenças que o ser humano tem, os animais também têm, diabetes, hipertensão, hipotireoidismo, e de fato eles adquirem esses traumas emocionais, é muito fácil passar isso para eles”, destacou.

Ver de perto as imagens que rodaram o mundo e viver aquilo de forma totalmente intensa e ao mesmo tempo profissional, segundo Juliano, não foi uma tarefa fácil. “Ao vivo é muito pior”, disse.

Outro ponto levantado por ele foi a dificuldade dos tutores, muitos deles ainda desabrigados, de reencontrar seus pets. “Eu fui em um abrigo que tinha 7 mil pessoas, então os animais acabam ficando perdidos nessa situação e ainda não se sabe até quando”, lamentou.

Somando as ações de bombeiros, policiais e Defesa Civil, mais de 10 mil animais foram resgatados no Rio Grande do Sul. “Querendo ou não, foram juntados em um só lugar animais de todos os tipos, tamanhos, de várias raças, animais que tinham famílias, casas e animais de rua, então virou uma mistura. Só nesse abrigo que eu me voluntariei, no bairro Mathias Velho, em Canoas, eram praticamente 3 mil cães”, destacou.

Abandono

Outra triste faceta relacionada aos animais, não só no Rio Grande do Sul, mas em todo país, é o aumento do número de animais abandonados. Isso também faz com que pessoas com boas intenções acabem se sobrecarregando.

“Tem muita gente com o coração bom, que quer ajudar, mas acaba não calculando os recursos necessários para poder cuidar desses animais. Não é só pegar e colocar dentro de casa, tem pessoas que tem 40 gatos, 100, 200 cachorros em uma chácara, e fica naquela complicação de obter recursos, naquela dificuldade, e com o tempo acaba abandonando. É uma dificuldade muito grande, que tem crescido”, ponderou.

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