O acesso democrático à cultura é uma das principais bandeiras da classe artística no Brasil. Em Anápolis, a situação não se difere e diversas ações são promovidas para vencer essa barreira e ampliar o número de pessoas que consomem arte de forma geral.
Um bom exemplo disso é o Cine Itinerante, realizado pela Território Cultural, que visita diversos bairros periféricos com uma grande tela para os moradores aproveitarem filmes gratuitamente. Além disso, o Cine Sibasolly, sala pública de cinema, acaba de ser inaugurado com este mesmo objetivo.
Convidado da Território e do Cine Prime para diversas ações, o ator Silvero Pereira falou à Rádio Manchester sobre as dificuldades de se acessar o cinema e outras expressões artísticas vivendo em uma cidade interiorana. Ele afirma que se surpreendeu com a magnitude do que já acontece em Anápolis.
“O que mais me impressionou foi a receptividade das pessoas, são muito gentis, muito afetuosas, carinhosas. Eu fiquei impressionado porque é uma cidade super bem desenvolvida. Eu sou do interior do Ceará, então a gente tem essa imagem de cidade do interior que as pessoas sempre precisam recorrer a capital, então eu sempre fico muito feliz quando eu venho para uma cidade do interior e vejo que é uma metrópole, com grandes vias, universidades, indústrias, shoppings, restaurantes incríveis, me sinto representado”, afirmou.
Em um relato pessoal, Silvero lembrou que somente aos 17 anos começou a ter acesso a outras formas artísticas, além da TV aberta. “Olha o tempo que eu perdi durante minha infância e adolescência, porque eu morava no interior, onde até hoje não tem um cinema, um teatro”, lamentou.
“Às vezes a pessoa não vai ao teatro, não vai ao cinema, porque não teve acesso, porque não sabe o que é. Recentemente, em um movimento que eu tenho feito de ir para cidade (Mombaça-CE), conversar com os gestores, a nova gestão da prefeitura tomou a decisão de construir um teatro, acha importante, porque viram isso, um garoto que saiu dali, do interior do Ceará, que nunca estudou teatro, nunca viu cinema na vida, só tinha uma televisão como lugar de arte, mas se tornou um ator nacional, conhecido”, ressaltou.
De Mombaça para o Festival de Cannes, Silvero já é colocado entre os atores mais talentosos de sua geração. “É possível que tenha outros talentos lá também, mas para que eles aconteçam, é preciso ter referência e para ter referência [as pessoas] precisam assistir, precisam ir no teatro e ver o que é teatro de verdade”, completou.
Outro ponto destacado pelo ator é a valorização da profissão que, segundo ele, muitas vezes é vista como um hobby, um passatempo. “Artista é profissional e pode viver de arte”, afirmou.
“Eu, Silvero, sou ator de segunda a segunda, eu trabalho, eu tenho um expediente, é a minha profissão, minha carteira é assinada como ator”, completa. Essa realidade, conforme o relato, pode ser mais dificultosa em determinados locais, onde o incentivo à cultura fica apenas no campo da idealização.
“Tem dificuldade por conta desse acesso, se você está em uma cidade onde não tem esse fomento, gestão de cultura, esse trabalho de fazer com que as pessoas absorvam, como você faz para ser conhecido? Para que seu trabalho chegue a uma capital, a uma empresa como a Rede Globo, ao streaming, se você não tem apoio, incentivo?”, questiona.
Apesar da facilidade que a internet proporciona, com as redes sociais e todo seu alcance, Silvero reforça a importância do incentivo público. “Se além dessa vantagem, a gente tivesse gestões preocupados em olhar para os seus artistas e fazer com que eles sejam procurados, a gente teria outro mercado”, concluiu.