No Brasil, 96% dos resíduos produzidos não são reaproveitados. Dos 82 milhões de toneladas gerados em 2022, somente 4% foi reciclado. O restante disso acabou indo para aterros, lixões e outros locais que causam impacto ambiental gigantesco, ao invés de serem utilizados pela indústria para retornar ao consumidor em forma de embalagens.
É comprovado que o plástico, papel, papelão, vidro e metais tem grande valor e quando reaproveitados representam uma economia de energia considerável, além, claro, dos ganhos para a natureza. Em Anápolis, existe coleta seletiva feita pela prefeitura, que diariamente visita diferentes bairros da cidade recolhendo os resíduos selecionados pela população. Mas, apesar disso, nem todo mundo faz a separação do reciclável do lixo comum.
Segundo Raiane Siqueira, formada em Saneamento Ambiental com especialização em Resíduos Sólidos, embaixadora do Instituto Lixo Zero Brasil, é preciso que as pessoas se conscientizem da diferença do lixo e do resíduo. “Lixo é quando a gente mistura, por exemplo, uma garrafa pet e um vidro com resto de comida ou o lixo do banheiro. Mas, na verdade, o plástico, o vidro e o papelão não são lixo e sim resíduos que podem ser reciclados”, alerta.
Raiane explica que o Instituto Lixo Zero é uma ONG (Organização Não-Governamental) que tem a missão de incentivar as pessoas quanto à importância da reciclagem. Ela ressalta que o objetivo é desviar do aterro sanitário tudo aquilo que pode ir para uma cooperativa de separação do material reciclável.
Os ganhos são para diferentes pessoas e setores. Ganha o poder público de um modo geral, que ao receber menos lixo observa o prolongamento do aterro sanitário, que são estruturas caras. Ganha o meio ambiente e ganha também o cidadão que tira o seu sustento do reaproveitamento dos resíduos. Apesar de todas essas vantagens, o simples ato de separar o que é lixo e o que pode ser reaproveitado não é feito por todo mundo.
“O Brasil recicla só 4% dos resíduos e a gente está bem abaixo dos outros países. Estamos descartando tudo de forma errada e isso impacta o meio ambiente, impacta a nossa saúde, traz prejuízos para nós e também para a economia”, afirma Raiane.
A especialista diz que do ponto de vista da economia, a reciclagem é fundamental. “No Brasil, existem mais de 900 mil catadores que vivem da reciclagem. Também existem várias empresas que trabalham com essa questão de fazer a triagem, fazer a preparação do material e destinar para reciclagem. Então, é muito importante, sim, para a economia essa questão toda”.
REAPROVEITAMENTO
Não só o básico do dia a dia pode ser encaminhado para a reciclagem, como o papelão, a garrafa pet ou a latinha de alumínio. Raiane conta que um fogão ou geladeira velhos, peças de computadores ou até mesmo um aparelho celular antigo e sem uso podem ter componentes que são reaproveitados. “O que não pode é estar sujo, com o resto de comida, essas coisas. Tudo isso pode ser encaminhado para reciclagem”, ressalta.
Mas para que a cadeia esteja completa e a todo o vapor, Raiane comenta que a população precisa mudar os hábitos e deixar para trás a visão, quase cultural, de que o lixo é local para se desprezar tudo aquilo que não se quer mais em casa. “Infelizmente, temos o comodismo de descartar tudo no lixo. Às vezes, as pessoas falam que não têm tempo, que é muito corrido, que onde vão descartar é longe, e preferem descartar no lixo comum”, afirma.
O fato de o caminhão da coleta seletiva passar em alguns bairros apenas de 15 em 15 dias acaba sendo um argumento para aqueles que deixam de separar o material reciclável do lixo comum. Muita gente diz que não gosta de deixar os resíduos guardados em casa por duas semanas até a coleta passar, mas Raiane dá uma orientação simples: faça a doação para um catador. Esses sim passam com mais frequência.
“A gente tem muitos catadores em Anápolis e pode fazer a doação dos nossos recicláveis para eles. Tem a cooperativa também de reciclagem, que a gente pode doar para ela também”, explica a especialista.
VIDROS
É preciso também uma atenção especial ao vidro, um material que pode ser reaproveitado, mas muitas vezes vai direto par ao lixo comum. Caso o recipiente esteja quebrado, basta colocá-lo dentro de uma caixa de sapato ou enrolar em um papel para evitar acidentes com o coletor.
Já as pilhas e baterias usadas, assim como as lâmpadas queimadas, precisam ser entregues em coletores instalados em supermercados, farmácias e lojas de material de construção. Isso porque são resíduos que possuem substância química com alto poder de poluir o meio ambiente.
Além disso, tem a logística reversa definida pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Trata-se de procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada.
Além das pilhas e materiais, entram nessa cadeia os pneus, óleos lubrificantes, produtos eletroeletrônicos, embalagens de agrotóxicos e outros. A logística reversa é de responsabilidade compartilhada. Ou seja, existe a incumbência de cada integrante do ciclo de vida de um produto em minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos por ele gerados, assim como reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental.
Dicas:
Higienize as embalagens antes de reciclá-las
Pode ser que leve muito tempo para a embalagem chegar até o centro de reciclagem. Portanto, todos os materiais antes de serem descartados, devem ser higienizados para evitar possíveis contaminações ou proliferação de fungos e bactérias.
Eduque as crianças com ações sustentáveis
Quanto antes começar, melhor poderão ser os resultados. Educar as crianças com assuntos relacionados à sustentabilidade irá facilitar a adaptação e incorporação do tema em suas rotinas, sem sobrecarregá-las, ou seja, os valores relacionados com o cuidado do meio ambiente estarão sempre presentes em suas vidas.
Recicle o isopor
Composto por 98% de ar e 2% de poliestireno expandido, o isopor é um material 100% reciclável, já que ele é um tipo de plástico. Muito utilizado para embalagens, tanto de eletrônicos como de alimentos, além de ser uma verdadeira tendência na construção civil, o material deve ser descartado nas lixeiras de plástico ou em pontos de entrega no comércio.