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Voz de Iris, Bolsonaro e Moro, Lauro Ferreira faz da TDAH um talento e brilha nas redes

Humorista goiano teve seu primeiro material viral há sete anos e hoje tem mais de 100 mil seguidores no Instagram

03/10/2023 11h00
Por: Rafael Tomazeti
Foto: Ederson Lucas
Foto: Ederson Lucas

Lauro Ferreira ganhou as redes sociais, mas pouca gente vai conhecê-lo pelo nome ou pela sua própria voz. São as imitações dele que fazem sucesso e, certamente, já fizeram muita gente dar gargalhadas. O meio político não escapa e sequer o chefe, agora ex, se livrou da gozação do humorista. 

Conhecido sobretudo pela voz do ex-governador e ex-prefeito de Goiânia, Iris Rezende, Ferreira ganhou nome nacional depois dos repentes com a interpretação do então ministro da Justiça, Sergio Moro, e do ex-presidente Jair Bolsonaro. 

O primeiro viral veio em 2016, depois da eleição de Iris na capital. Na época, o artista gravou um áudio numa sátira de um dos pontos da campanha do emedebista: os pit-dogs. Na gravação, Lauro Ferreira, travestido de Iris, anunciava o fim dos tradicionais pontos de lanche da cidade. 

Ali teria início a carreira do humorista como imitador. Mas essa era apenas a consagração de um talento que se mostrou desde muito cedo. Aos 9 anos de idade, Ferreira já imitava professores e colegas. O talento, disse ele na edição desta segunda-feira (2) do podcast Papo de Garagem, se mostrou a partir de um Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). 

“Eu presto mais atenção no jeito do que você está falando do que no que você está falando. É TDAH. Esse meu problema se tornou uma qualidade por eu ter facilidade de observar trejeitos e pegar o jeito de falar. É um problema, mas acabou virando talento noutra situação”, afirmou. 

O mérito de transformar o transtorno em talento, na internet, demorou a ter créditos. Vários áudios de Ferreira viralizaram, mas ninguém sabia quem era o autor. Foi aí que ele passou a inserir suas redes sociais e começou a bombar. Hoje, o humorista faz todo seu material, com exceção da manutenção, que é feita por um profissional contratado. 

Hoje, o humor é a vida e garante o sustento do artista. “Todo artista acaba tendo um plano B, porque viver de arte é uma loucura, é acreditar totalmente no seu potencial. Hoje, eu não tenho outra renda”, revelou. 

Entre os personagens mais famosos hoje está o ‘Santo Iris’, versão do ex-prefeito depois que ele faleceu, em 2021. A estratégia para se diferenciar de outros humoristas goianos que interpretam o político é conversar com o povo. 

“O Delesmano faz o Iris dentro do contexto político. Quando comecei, era o Iris falando para o povo. Dá bronca no povo, Santo Iris fala com as pessoas do céu. Minha imitação do Iris é totalmente fora do contexto político. O pessoal simpatiza com a figura e cria um negócio humorístico”, avaliou. 

Em vida, Ferreira encontrou Iris várias vezes e o tom de humor dominou muitos dos bate-papos. “Quando conheci o Iris, na terceira conversa, falei que ia contar. Teve duas mulheres que conheci que falaram que tinham tesão na sua voz. Não fiz na hora do ato. Ele virou para mim e falou: “traz elas aqui para ouvirem pessoalmente.” 

Nem o chefe escapa 

Entre tantos personagens, como Bolsonaro, Moro, Serjão Berranteiro, nem o chefe escapou. “A gente esquece que é uma gozação e acaba fazendo. O chefe não gostou”, lembra Ferreira de um episódio que acabou numa demissão dele de uma rádio goianiense.  

Recentemente, o artista foi convidado para fazer um teste de elenco de um filme estrelado pela goiana Ingrid Guimarães, mas foca seu trabalho diariamente numa rádio e nas redes sociais. 

Humor ácido 

Com as redes sociais, muitos humoristas acabaram cancelados após piadas que foram consideradas de mau gosto, seja com grupos minoritários ou falas tidas como preconceituosas. Ferreira, claro, está atento ao momento. “Se você solta uma piada com homofobia, machismo, racismo, vai dar boró.” 

Para o imitador, a tendência é que o humor evolua para que grupos fechados acompanhem espetáculos mais ‘ácidos’. “Está passando da hora de ter um consenso na sociedade. O grupo se sujeitar a ser responsável. Quem está ali vai ouvir qualquer tipo de piada e o cara conta o que quiser. Mas é ali, fechado. Tem gente que não consegue fazer se não for humor ácido”, frisou.

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