O assoreamento dos rios, um processo natural de sedimentação, tem se intensificado ao longo do tempo com a ação humana, principalmente em cidades suscetíveis à erosão, como é o caso de Anápolis.
Com o solo exposto, retirada de vegetação natural e uso de máquinas agrícolas, diversos pontos do município são considerados críticos. Além disso, a região Sul da cidade, principal área de erosão de Anápolis, contribui bastante para o assoreamento do Córrego das Antas, por exemplo.
Foi o que explicou a professora, doutora em geografia pela Universidade de Campinas (Unicamp), Kesia Santos, em entrevista ao DM Anápolis. Segundo ela, o solo exposto e a retirada de material na parte alta do rio influencia no assoreamento.
“Um ponto supercrítico em Anápolis é o lago do Central Parque, ele sempre vai assorear, porque tem a dinâmica de solo exposto, de erosão. Outro ponto crítico de assoreamento é o Córrego dos Góis, que passa na Amazílio Lino”, lembrou.
De acordo com a professora, mesmo que a Prefeitura sempre faça obras para retirar o excesso de material no leito do córrego, sempre vai haver um material recorrente por conta das erosões na bacia.
“Outro ponto crítico de assoreamento que nós temos é o que a gente chama de Vale das Antas, que é a parte mais baixa do Córrego das Antas. Lá nós temos locais, inclusive, onde o rio está mudando o curso dele por um excesso de material”, destacou.
Esse processo é reforçado com a retirada de matas ciliares, por exemplo, e pode afetar o curso e o volume da água, causando enchentes ou reduzindo o nível da água, alterando o habitat natural de espécies.
Kesia explica que esse processo de exposição do solo aumenta a quantidade de material em suspensão na água e também o material depositado no fundo dos rios.
“Quando esse material vai sendo depositado, ele vai diminuindo o espaço que a água tem pra correr. Isso gera um problema muito sério, porque a água que não consegue escoar para os rios, quando você tem a chuva, ela vai subir e vai alcançar as áreas marginais, que é o que a gente chama de processo de inundação”, completou.
Segundo o gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), André Amorim, o fenômeno acontece a partir do uso indevido do solo, onde não há matas ciliares.
“[Os rios] recebem muita carga de terra provenientes da cidade, onde as pessoas fazem o descarte irregular de construção civil e também na parte do campo, onde as pessoas precisam fazer curvas de nível para evitar que se tenha o carregamento desse material para dentro dos mananciais”, explicou.
A Saneago, uma das usuárias das bacias hidrográficas de Anápolis, afirmou que realiza ações ambientais em conjunto com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e com a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) de Goiás.
A companhia disse ainda que trabalha com o Ministério Público, Prefeituras, produtores rurais e sociedade civil, com apoio do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar Ambiental, em iniciativas e projetos de recuperação/preservação ambiental.
Em nota enviada ao DM, a Saneago afirmou que já investiu cerca de R$ 114 milhões em Anápolis, para reforçar o sistema de abastecimento de água e garantir a regularidade do abastecimento. A previsão da companhia é de investir cerca de R$ 177 milhões no sistema de abastecimento de água até 2026.
Para o consultor ambiental Antônio El Zayek o assoreamento dos rios é apenas um dos problemas ligados à segurança hídrica em Anápolis. Mas, acredita que a solução está posta.
“Nós temos que trazer soluções baseadas na natureza, tem que captar água da chuva, se você não for utilizá-la, tem que drenar. Então nós temos que mudar a forma que a gente enxerga a água na cidade e a nossa relação com ela”, afirmou.
Recentemente, Zayek foi anunciado para colaborar com a Prefeitura de Anápolis em estudos relacionados aos córregos que cortam o município. Segundo ele, as soluções não são simples.
“As pessoas ficam pedindo ‘piscinão’, ‘vamos tirar essa água’, isso é insustentável. O que nós temos que fazer são formas de abastecer o lençol freático dentro da área ocupada, porque agora nós estamos tirando a água de dentro da área ocupada”, disse.
“Anápolis já fez muitas coisas, a gente está à frente de muitas cidades, com leis, programas, mas é muito interessante que as pessoas saibam o que a gente tem que fazer para ter segurança hídrica”, completou.
Por fim, ele destaca que o “lado social” está inteiramente ligado à água, já que a maior parte dos problemas relacionados à matéria prima estão nas regiões periféricas.
“Se a água não infiltra, ela passa por cima. Quando ela passa por cima, ela destrói. Quando ela destrói, destrói as margens e os loteamentos na periferia da cidade, grandes erosões, onde os pobres moram, a classe D”, afirmou.
“Quando falta água, falta para quem? Classe D. Então, se a gente olhar o contexto todo pela visão socioambiental. Nós temos um estrago muito grande pelo uso de tecnologia insustentável e quem paga o preço sempre são as populações mais carentes”, concluiu.