Mestre artesão desde os 27 anos, o anapolino Júlio Gomes é um dos artistas plásticos mais renomados do estado de Goiás. Com esculturas marcadas pelo regionalismo, recentemente uma delas foi presenteada para uma pessoa icônica: o Papa Francisco.
Membro da Rede Artesol - Artesanato Solidário, uma de suas marcas é a criação de peças a partir de materiais orgânicos e recicláveis, como palha de milho e papéis de jornal.
Júlio, inclusive, desenvolveu um método de tratamento desse material, coletado em pamonharias da cidade, sempre pensando no meio ambiente e no desenvolvimento sustentável.
“Eu vou nos estabelecimentos, pego os rejeitos de pamonha, ou seja, as palhas que são descartadas. Tem todo um processo de secagem, de desidratação na sombra, depois tem a aplicação de fungicidas, tingimentos, entre outros, até começar a fazer as esculturas”, explicou.
“Fui eu mesmo quem desenvolvi, primeiramente porque não tenho acesso a matéria prima, um paiol, como outras que trabalham fazendo escultura utilizam. Eu uso os rejeitos das pamonharias para fazer o meu processo”, continua.
Além da sustentabilidade, a integração social é um dos focos do artista, que participa de projetos voltados para a difusão do artesanato e da arte em geral.
“Para mim é mais do que uma paixão, porque paixão passa, acho que para mim é amor, porque é através do artesanato a gente tem a inclusão de pessoas, a preservação do meio ambiente”, afirmou.
“Eu não vejo que meu trabalho é simplesmente pegar uma palha e fazer um objeto, pegar um jornal e fazer uma escultura, eu vejo além disso”, continua.
“Eu luto para ser reconhecido cada dia mais, levar a minha arte para o mundo, principalmente para as pessoas que tem um poder aquisitivo mais baixo”, completou.
O primeiro trabalho artístico de Júlio foi ainda no primário, quando tinha apenas sete anos. Segundo ele, a professora passou um trabalho para a classe e percebeu o talento promissor.
“Na época eu pensei que não ia conseguir fazer, foi um trabalho de cobrir uma caixinha com com palitinhos. Eu fiz, mandei para ela, ela olhou, não acreditou que eu tinha feito, depois falou “você vai longe, vai ser um futuro artista plástico””, relembrou.
Esse trabalho, citado por Júlio, foi inclusive premiado e exposto, mas, com o tempo, tanto ele quanto a professora não conseguiram mais identificar onde estava.
Agora, considerado um dos 30 melhores artesãos de Goiás pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Júlio investe na divulgação e difusão da cultura goiana.
“Nas minhas peças eu tento agregar a questão da cultura de Goiás, a cultura local de Anápolis, sempre que é possível fazer, a gente faz”, disse.
“Hoje, a indústria, principalmente a chinesa, cresceu muito e eles tentam trazer para o nosso meio a cultura de outros países, por isso que eu tento, através das minhas peças, uma identidade nossa goiana”, destacou.
“As pamonhas, as festas religiosas, a folia, as cavalhadas de Pirenópolis, toda essa realidade para as peças. Assim, você não estará adquirindo simplesmente uma peça, está adquirindo muito mais, é histórico”, concluiu.